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14/11/2012

A moça e o francês



Todos que a viam, logo percebiam, ela brilhava como uma luz fria. Embora friorenta, havia nela um dilúvio exuberante de vida. Um matiz azulado, os poros dela expeliam. Seu olhar era atento e estrelar, severamente lindo. Sua fragrância era bucólica. Ela vestia o luto, talvez em culto a um insólito francês. Por isso, carregava consigo um ar ambíguo e claudicante. Toda vez que podia, sorria. Toda vez que podia, entristecia. No fundo, parecia tocar um scherzo que, às vezes, variava para um tango argentino. Sem recorrer à metafísica, dificilmente sua existência seria explicável. Durante o tempo em que todos a observavam, ela provavelmente pensava no francês que jamais a notaria. Há muito tempo, por ele, ela havia se apaixonado. Foi amor à primeira vista. Quando o viu, sentiu que era para sempre. Ela não acreditava nisso, antes de fitá-lo. Mas sucumbiu ao inverossímil. Depois de conhecê-lo, ela não conseguia enxergar mais ninguém. Bombas estouravam ao seu lado. Sorrisos faceiros mandavam flores e faziam serenatas. Muitos presentes, os príncipes lhe enviavam. Epístolas apaixonadas poetas encaminhavam. Mas ela estava vidrada. Gostava mesmo é do francês. Ele havia lhe conquistado. Ela dizia que o francês tinha uma nova onda, que ele havia quebrados suas regras, e isso a atrelava a ele. A vida dela, o francês mudou. Dali para frente, ela não conseguiria ver as coisas com os mesmos olhos. Não conseguiria entender as regras impostas. Não conseguiria aceitar reprimendas. Por meio do francês, ela havia conhecido a liberdade. Agora, ela era eternamente livre, e o francês não saberia.     

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