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"Escrever é fazer recuar a morte, é dilatar o espaço da vida."




Jornal de Letras, Artes e Ideias, Lisboa, nº 50, 18 de Janeiro de 1983
                                               In José Saramago nas Suas Palavras


Para a física, a prova absoluta da minha existência é a mesma da cadeira que estou sentado. Então não penso ser o tal. Também não penso em ser o gênio que vai descobrir a solução para a sociedade virtual. Não espere ler aqui sobre Bauhaus ou Belle Époque. Mal sei me definir. Não tenho nenhuma teoria da conspiração na manga. É Verdade que tenho certas afinidades, mas não vou escrever sobre a política. Não tenho conhecimento da história para falar das revoluções ou evoluções Gloriosas. Também não posso escrever sobre a existência humana, se eu não entendo nem a minha. Não posso desbancar a Teoria da Relatividade apenas com suposições. Por isso, pensei em falar de música, mas também não sei explicar esse fenômeno tão dinâmico. Ou mesmo, explicar porque as mais belas músicas da Humanidade foram feitas por um quase surdo. Não tenho nenhuma tese revolucionária que já não seja ideologicamente controlada. A arte cinematográfica não é minha praia, contento-me em vê-la, minha incapacidade intelectual não pode criticá-la. Não vou falar da minha ausência de culpa, pois, bem sei que sou tão culpado quanto o corrupto no Senado. Sei que poderia escrever sobre as limitações humanas, tema que me aflige, mas não as entendo, divagaria sem chegar a um resultado prático. Também não vou falar sobre a vida, teria que falar que nela tudo que foi calculado pode dar errado, que ainda nada é exato. Ao fazê-lo, desmotivaria a última parcela otimista, e assim  me sentiria mais culpado. Também não penso em reescrever a lira dos 20 anos de um poeta romântico, tampouco uma teoria sobre o Capital. Penso, pois, em escrever a lira de um pseudo-intelectual em decadência racional, que muito pouco sabe sobre o amor, mas que sabe que tudo o envolve é mais que especial.